Wanda Camargo
A Parada Gay é um exercício legítimo de direitos de cidadãos que os tiveram negados por longo tempo. As últimas edições brasileiras, realizadas em São Paulo, transcorreram em paz e alegria, com alguns exageros e atitudes caricatas perfeitamente compreensíveis como afirmação – necessária em oposição a séculos de negação.
Ainda assim, é possível ouvir algumas reações iradas à ideia do orgulho gay, do tipo vamos fazer a parada do orgulho hetero. Reações infantis e descabidas: não se sabe de nenhum heterossexual ridicularizado, agredido ou morto apenas por ser heterossexual. Heterossexuais não são obrigados a esconder esta condição para obter ou manter empregos – e até mesmo o amor e respeito de seus familiares e amigos. E então, como nunca houve uma vergonha hetero, não há necessidade de um orgulho hetero.
Eventos como esse demonstram que de alguma forma o mundo se move – o Brasil está mais civilizado na questão dos direitos civis de maiorias e minorias (embora esteja ainda muito longe do ideal) e as escolas têm parte importante em todo esse processo. As primeiras expressões públicas da homossexualidade costumam ocorrer em ambiente escolar e, como todo indivíduo que se sente de algum modo reprimido, o adolescente manifesta-se de forma assertiva, e mesmo agressiva, trazendo aos educadores um enorme desafio.
Todas as instituições, principalmente as dedicadas à educação e à cultura, devem ter como ponto de honra não discriminar – e não permitir que se discrimine – por motivos religiosos, biótipo, orientação sexual ou qualquer outra diferença. Escolas públicas e privadas passaram por um processo de arejamento – não têm mais a atitude e o aspecto sisudo e cinzento de outros tempos. Os espaços de convívio, pátios e cantinas são descontraídos e propiciam a formação de relacionamentos pessoais, afetivos, e até profissionais, que podem prolongar-se uma vida inteira.
No entanto, instituições de ensino não são áreas de lazer. Seu principal propósito é o estudo, a pesquisa e o conhecimento. Não se pode tolerar dentro da escola comportamentos que não são tolerados fora dela, como violência e uso de drogas – e também alguns permitidos em outros ambientes, como consumo de bebidas alcoólicas, música alta demais e manifestações exageradas de afetividade, independente de seus protagonistas serem ou não do mesmo sexo. Não se trata de puritanismo, mas de bom senso e estabelecimento de uma ordem de valores necessária e adequada ao tipo de lugar em que se está. Regras de etiqueta não são apenas formalidades, mas, essencialmente, normas de bem viver em comunidade, em que a contenção individual pode representar respeito aos direitos coletivos. De modo geral, em acordo com a ocasião e o ambiente, nos vestimos e comportamos diversamente, sem abdicarmos de nossa essência e individualidade.
A aparente falta de limite entre o público e o privado, característica exacerbada nas redes sociais, não apenas confunde o jovem nessa esfera, mas também na vida estudantil e amorosa. Limites claros e explicitados fazem parte do processo educativo, na escola e fora dela.
A autora é educadora e assessora da Presidência das Faculdades Integradas do Brasil UniBrasil