Segundo dados do IBGE, o Brasil tem cerca de 6,5 milhões de pessoas com algum tipo grave de deficiência visual, incluindo cegueira e baixa visão. Para eles, realizar pagamentos por meios eletrônicos, como cartões de crédito e débito, pode gerar certa insegurança, principalmente na hora de conferir dados ou digitar a senha.
Pensando nisso, a Abecs – entidade que representa o setor de meios eletrônicos de pagamento no Brasil – acaba de lançar duas soluções inéditas de acessibilidade em pagamentos eletrônicos, que beneficiarão boa parcela deste público, gerando mais autonomia e segurança no momento da compra. O lançamento ocorreu durante o 12º CMEP (Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento), evento que reuniu especialistas do mercado financeiro em São Paulo.
Uma das soluções é o aplicativo Pay Voice, disponível para sistemas Android e iOS, que faz a leitura das informações da transação por meio da câmera do celular e as traduz em áudio para o usuário. Funciona assim: após o atendente da loja inserir o cartão e digitar o valor na máquina, o consumidor aciona o aplicativo em seu celular e aponta a câmera para a tela do terminal. Ao reconhecer os caracteres, o software gera um áudio referente ao valor digitado, para que o usuário possa se certificar que o dado está correto antes de digitar a senha. A ideia é que o aplicativo torne a transação mais confortável para o deficiente visual, que pode, inclusive, armazenar o histórico das últimas 50 transações
A outra inovação diz respeito aos terminais de pagamento com teclado "touchscreen", que não possuem marcações de acessibilidade em alto-relevo. Após diversos estudos, foi criada uma película com identificação tátil para ser fixada na superfície desses terminais, permitindo ao deficiente visual o reconhecimento das teclas e a digitação segura da senha. As máquinas "touchscreen" que estão no mercado serão adaptadas e os novos terminais já serão fabricados com a solução integrada
Com o lançamento dessas aplicações, o mercado brasileiro se torna o único do mundo a oferecer esse tipo de solução de forma estruturada. "Todo o setor de cartões uniu esforços nesse desenvolvimento, que incluiu pesquisas de campo e mais de dois anos de trabalho. Vamos continuar estudando melhorias e adaptações, buscando sempre o acesso seguro dos cidadãos aos meios de pagamento", afirma Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.
As soluções foram desenvolvidas por um grupo de trabalho formado pela associação, que reuniu as empresas de cartão, fabricantes dos terminais de pagamento e contou com a participação da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal e da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB).