Em 1827, a arte da fotografia ainda estava sendo gestada pelas experiências do litógrafo francês Niepce. Somente cerca de dez anos depois, associado a J. M. Daguerre, ele foi criar o processo chamado daguerreótipo. Por isso, as imagens que se pretendia guardar para o futuro dependiam da perícia e da arte dos pintores e desenhistas. Assim, a primeira representação pictórica da cidade de Ponta Grossa, feita há 197 anos, foi aquela produzida pelo célebre pintor-viajante, Jean-Baptiste Debret.
Primeira pintura de Ponta Grossa
Consta que ele, em viagem de estudos por várias regiões do Brasil, deteve-se no pequeno povoado. Ele teria parado à beira da estrada de tropas para pintar a aquarela medindo 10,5 x 21,5 cm. A pintura hoje pertence à Coleção dos Marqueses de Bonneval (França).
O que mostra a figura
Ponta Grossa era, então, um delicado gérmen. Em primeiro plano, bem próximo do artista, um cacto e duas bromélias floridas sobrepõem-se à vegetação rasteira e ao pasto nativo. Mais adiante, no cimo da elevação arredondada que parece dominar todo o restante dos sítios vizinhos, encontra-se o nascente povoado. A igreja de estilo colonial (no lugar onde se ergue a Catedral de Sant’Ana), com torre fronteira e com o grande cruzeiro à direita, é a construção mais imponente. Está rodeada por nove pequenas casas térreas e um sobrado. É possível divisar a presença de algumas pessoas no espaço vago existente entre o templo e o casario.
Araucárias ao fundo; uma casa no ‘Ambiental’
Atrás do morro limpo de árvores, onde o embrião da cidade foi plantado, descortina-se uma outra elevação menos acentuada. Ela vai abrandando para o leste, com mata fechada e escura. Dela despontam frondosos pinheiros araucária.
Ainda à direita, logo nas fraldas do pequeno monte, provavelmente onde hoje se encontra o Parque Ambiental “Manoel Ribas”, mais uma casinha pode ser vista. Foi erguida em pleno campo e rodeada de uma cerca de varas. Ao longe, as planuras que se perdem na linha do horizonte são iluminadas pelo sol intenso, que dá belos tons de dourado à aquarela.
Campos de Curitiba
Se deixarmos a imaginação voar nas asas de quase dois séculos, com certeza iríamos encontrar Debret. Estaria com suas tintas e pincéis, instalado em algum lugar próximo aos altos da Rua Balduíno Taques. Estaria pronto para estampar a minúscula aldeia dos Campos de Curitiba, como assim a denomina na obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (França, 1839).
História digna e rica
Artista refinado e homem que não se acomodava à vida confortável da Corte, o pintor e cientista francês saiu a campo para conhecer o país que visitava. Acabou dando-nos a honra de retratar os primeiros tempos desta que é a 4ª cidade do Paraná e a 96ª do Brasil (no total das 5.570 existentes). Por isso, não é ufanismo repetir que possuímos uma história digna e rica. Foi escrita e retratada por varões eminentes, de elevada estatura moral e espiritual.
Texto originalmente publicado na versão impressa do DCmais, jornal Diário dos Campos.