“Se beber, não dirija”. Essa frase é amplamente ouvida não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Tudo porque a combinação de álcool e direção simplesmente não é compatível e a embriaguez ao volante não deve e nem pode acontecer. No entanto, mesmo com várias campanhas e advertências, alguns motoristas assumem o risco e, às vezes, as consequências são fatais.
Em junho passado, no âmbito dos 15 anos da Lei Seca, o Centro de Informação sobre Saúde e Álcool (CISA) apresentou um relatório – com dados coletados do Ministério da Saúde – sobre os acidentes causados pelo consumo desse tipo de bebida no país. O documento revelou que, somente em 2021, 10.887 pessoas perderam a vida devido à embriaguez ao volante, resultando em uma média de 1,2 mortes por hora.
Embora a taxa de mortalidade a cada 100.000 habitantes tenha sido 32% menor do que em 2010, caindo de sete para cinco por 100.000 habitantes, o número ainda é excessivamente alto.
Mariana Thibes, socióloga e coordenadora do CISA, diz que as autoridades locais devem aumentar a vigilância nas ruas, além de implementar campanhas educativas.
“A educação da população tem um papel importante na segurança viária (…) Em relação à fiscalização, sabemos que quando não há continuidade, o impacto na redução de mortes no trânsito tende a diminuir, apesar da existência de leis”, disse.
O que é pior, o consumo de álcool continua aumentando no Brasil, de acordo com o novo relatório “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023” apresentado pelo Ministério da Saúde. Ele relata estimativas tanto da frequência quanto da distribuição sociodemográfica de vários fatores de risco para doenças crônicas.
O relatório, que concentra dados de dezembro de 2022 a abril de 2023, é realizado nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Ele mostrou que o abuso de álcool na população geral aumentou de 18,4% para 20,8% em dois anos, em comparação com a análise de 2021.
Desse total, o consumo entre os homens aumentou de 25% para 27,3%, enquanto entre as mulheres o aumento foi de 12,7% para 15,2%. Agora, se compararmos 2010 com 2023, podemos ver que houve um aumento significativo. Principalmente entre as mulheres, de 10,5% para 15,2%, enquanto entre os homens houve estabilidade.
Em relação ao relato de álcool e direção entre a população brasileira, soube-se que também houve um aumento de casos entre 2021 e este ano. “No geral, a proporção da população que relatou dirigir sob efeito de álcool cresceu de 5,4% para 5,9%. Esse aumento foi de 9,7% para 10,1% para homens e de 1,7% para 2,2% para mulheres. No entanto, as taxas de prevalência em 2023 ainda são menores do que em 2011. O que não contradiz a estabilidade observada na última década”, diz o relatório, que também foi analisado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.
Nesse contexto, a ICSA alerta que não existe uma quantidade segura de álcool para se consumir antes de dirigir.
“Em pequenas quantidades, o álcool já é capaz de alterar os reflexos do motorista (…) Ele também aumenta o risco de envolvimento em acidentes graves de trânsito, pois causa diminuição da atenção, falsa percepção de velocidade, aumento do tempo de reação, sonolência, redução da visão periférica e outras alterações neuromotoras”, afirma Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA.
Deve-se observar que, além de tudo isso, uma pessoa que se envolva em um acidente sob efeito de álcool e tenha um seguro de carro, a empresa não indenizará o proprietário. Isso porque, além de ser um crime, demonstra que o motorista estava dirigindo em condições inviáveis.
Frequência de consumo na população
Neste ano, o CISA também publicou a pesquisa “O álcool e a saúde dos brasileiros – Panorama 2023”. Um relatório que revelou a frequência e o consumo de bebidas alcoólicas no país, indicando que 45% dos brasileiros consomem álcool em festas, eventos sociais e até mesmo em casa.
Em detalhes, 20% dos entrevistados disseram que bebem uma vez por semana ou a cada quinze dias. Já 14% bebem uma vez por semana ou menos, 7% bebem de duas a quatro vezes por semana e 3% bebem cinco vezes ou mais. Além disso, 25% dos jovens, com idades entre 18 e 24 anos, e 23% dos jovens adultos, com idades entre 25 e 34 anos, indicaram que bebem uma vez por semana ou a cada 15 dias.
Embora a pesquisa tenha revelado que uma grande proporção de brasileiros abusa de bebidas alcoólicas, eles não percebem isso como um problema.
A esse respeito, 27% das pessoas dizem que consomem moderadamente e 17% que abusam do álcool. Entretanto, 75% dos consumidores abusivos acreditam que são consumidores moderados.
De acordo com o relatório do Vigitel, beber excessivamente é quando os homens bebem 5 ou mais doses ou as mulheres 4 ou mais doses em uma única ocasião. A pesquisa constatou que 63% consomem até 4 doses por ocasião. Enquanto isso, 18% dos homens disseram consumir de 5 a 6 doses, 5% de 7 a 9 doses e 18% em média 10 ou mais doses. Já as mulheres foram 12%, 2% e 12%, respectivamente.
É importante salientar que o Brasil é um dos países com uma das leis mais rigorosas sobre beber e dirigir. A Lei nº 11.705, conhecida como Lei Seca, estabelece tolerância zero para a presença de álcool no sangue. Além disso, sanções que variam de multas a prisão, por exemplo, em casos de acidentes que resultem em homicídio ou lesões corporais.