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Psicóloga explica aumento de casos de tragédias causadas por brigas no trânsito

Brigas no trânsito
Algumas características do trânsito propiciam conflitos. Foto: Depositphotos

Apesar de não haver um dado oficial nacional sobre mortos e feridos em decorrência de tragédias causadas por brigas no trânsito, há uma sensação muito clara de aumento desses casos, principalmente se levarmos em consideração os casos noticiados pela mídia. O que tem causado essas tragédias? Por que o trânsito é um ambiente propício para conflitos? Essa e outras respostas você encontrará na reportagem do Portal do Trânsito.

Um caso bem recente envolveu, inclusive, um instrutor de trânsito no exercício de sua profissão. De acordo com informações do Sindicato dos Proprietários de Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais (Siprocfc-MG), Alessandro Gomes de Carvalho foi arrastado e prensado a outro carro, quando tentava impedir que o motorista que bateu no veículo do CFC durante uma aula de direção, fugisse do local sem fazer boletim de ocorrência.

E esse não é um caso isolado. Um levantamento simples do Portal do Trânsito, com base em notícias publicadas na internet, revela que desde o início desse ano já foram noticiados, pelo menos, 20 casos de tragédias causadas por brigas no trânsito. Os eventos ocorreram em praticamente todo País.

Conforme Eliane Pietsak, pedagoga e especialista em trânsito, algumas características do trânsito propiciam esses conflitos.

“Estão todos no mesmo ambiente com necessidades, habilidades, condições e restrições únicas. O resultado, geralmente, é composto por pessoas sem paciência, empatia e brigas”, analisa.

Reflexão sobre o momento que vivemos

De acordo com Adriane Picchetto Machado, psicóloga especialista em trânsito, é preciso primeiro, fazer uma reflexão sobre as questões culturais e sociais do momento que estamos vivendo.

“Não podemos desvincular o que acontece no trânsito com toda a nossa realidade. Nós tivemos uma pandemia que trouxe um sofrimento generalizado para milhares de pessoas. A percepção de vulnerabilidade, de não saber o que vai acontecer amanhã, de não ter ideia de como planejar o futuro, de não saber se iria sobreviver, chegou a todos. Tivemos uma tragédia mundial e hoje estamos colhendo no nosso dia a dia frutos dessa situação”, analisa.

Para a psicóloga, o que parece é que agora estamos vivendo uma epidemia de ansiedade. “No século passado a psicologia trabalhava principalmente as questões de neurose, já em torno dos anos de 2000, a depressão. Atualmente estamos trabalhando bastante a ansiedade e os transtornos de pânico”, pontua.

Além disso, segundo Picchetto, graças a tecnologia temos mais um problema: a aceleração do dia a dia. “Tudo o que nós fazíamos em oito horas de trabalho, hoje somos obrigados e conseguimos fazer em quatro horas. E aí as outras quatro horas nós continuamos trabalhando e temos trabalhado cada vez mais. Imaginávamos que a tecnologia ia nos trazer uma possibilidade de descanso, uma administração melhor do nosso tempo. No entanto, o que nós vemos hoje são pessoas mais estressadas, imediatistas, cansadas, ansiosas e com problemas de pânico frente a situações do dia a dia”, esclarece.

Conforme a especialista muitas vezes os gatilhos para situações de violência passam por situações banais.

“Todos nós temos agressividade, nós precisamos até em alguns momentos ser agressivos, como por exemplo, para tomar decisões na vida. É preciso, porém, direcionar esse potencial agressivo para situações onde a gente consiga controlá-lo”, diz Picchetto.

Ela cita outros fatores que contribuem para a violência no trânsito. “As pessoas perderam a capacidade de pensar, de contar até dez e de refletir antes de agir. Somando-se, ainda, o fato do aumento do armamento, que me preocupa muito. Uma pessoa armada se sente um super-herói, que pode realizar qualquer ação a partir de qualquer ataque, por mínimo que seja. Isso reflete em aumento de violência não só no trânsito, mas em bares e até mesmo dentro de casa”, opina.

Papel da psicologia

Adriane Picchetto destaca que o trânsito é um campo de relação social e nele precisamos perceber que o outro tem direitos e deveres.

“Se eu paro num sinal fechado é porque eu percebo que existe um outro veículo, na outra via, que tem o direito de passar e, por isso, eu tenho que aguardar. Se essa consciência social, ou melhor essa condição de cidadania, não se manifestar no trânsito, nós temos infelizmente a selvageria”, alerta.

A especialista destaca, nesses casos, a importância do papel da psicologia. “Nessas análises comportamentais tanto do trânsito quanto nos outros fenômenos da nossa vida, a psicologia pode contribuir em diversos níveis para resgatar a dimensão humana nas nossas relações inclusive na relação que nós temos no trânsito assim como com as outras pessoas”, conclui.

Veja a entrevista completa de Adriane Picchetto Machado, especialista em psicologia do trânsito, sobre brigas no trânsito:

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