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Conta que não fecha: venda de carros elétricos cresce mais do que número de carregadores

De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, em quatro anos, os pontos de recarga para veículos elétricos plug-in (BEV e PHEV) subiram de 300 unidades, em 2018,  para 1,2 mil em 2022. Isso equivale a um crescimento de 300%. A questão é que, por outro lado, a venda de carros elétricos cresce mais do que o número de postos de recarga disponíveis para esses veículos, seja no formato público ou semipúblico. Esse fato torna o abastecimento insuficiente para toda a demanda do mercado.

O levantamento também constatou que só no ano passado, os eletrificados que podem ser recarregados totalizaram 18.806, sem contar os que já existiam anteriormente.

Diante deste cenário, conversamos com exclusividade com o diretor da pasta de Infraestrutura da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Davi Bertoncello, que também é CEO da Tupinambá Energia, para entender os motivos pelos quais essa conta não fecha.

Acompanhe!

Portal do Trânsito – Diante dos dados, este mercado pode ser tido como promissor? Por quais motivos?

Davi Bertoncello – Sim, a Tupinambá já previa este crescimento. O veículo elétrico a bateria não apenas preenche requisitos de ESG, mas entrega ao mesmo tempo uma experiência ao usuário muito superior, com maior potência, controle e muito mais conforto. São vantagens competitivas que veículos a combustão ou híbridos não plug-in jamais foram capazes de oferecer. Enxergamos um paralelo muito similar à adoção dos smartphones, onde o preço de aquisição é maior, porém o valor agregado justifica o investimento.

É um mercado muito promissor, especialmente em um país com energia elétrica renovável, acessível e com tamanho crescimento na eólica e solar. Além disso, esse crescimento abre espaço para a criação de novos modelos de negócio, oferecendo ainda mais oportunidades no mercado de trabalho.

Portal do Trânsito – O que falta para que haja mais investimentos para termos mais modelos com a tecnologia para carregadores?

Davi Bertoncello – O veículo elétrico é muito cativante. Salvo tímidos benefícios fiscais e municipais, seu crescimento já é significativo. Para muitos, a recarga noturna na residência é uma realidade. Poder começar todos os dias de “tanque cheio”, a uma fração do valor dos combustíveis, é um grande desejo. Recentemente realizamos uma pesquisa de intenção de compra de carros elétricos e híbridos plug-in que demonstra que 58% dos brasileiros já consideram um veículo elétrico na próxima compra, percentual aliás superior ao dos Estados Unidos.

Neste sentido, vemos como fundamental a manutenção e ampliação dos benefícios, tanto os fiscais para os veículos, quanto o fomento para uma nova infraestrutura. Seria justo o segmento contar também com os subsídios que observamos nos combustíveis fósseis e também nos biocombustíveis.

Portal do Trânsito – Qual é a relação entre o aumento do percentual de vendas de carros para que tenhamos mais investimentos e ampliação do número de carregadores?

Davi Bertoncello – Não existe um racional para uma equação precisa entre veículos elétricos e carregadores públicos. Muitos proprietários já começam seus dias 100% carregados, razão pela qual muitas vezes o paralelo, com a onipresença dos postos de combustíveis, não ilustra o sucesso da mobilidade elétrica. Um carregador rápido do tipo DC, como os da Shell Recharge, operados pela Tupinambá, sem ocupar todo o espaço de uma bomba de combustível, atende hoje dezenas de veículos por dia, ao passo que carregadores AC podem não só realizar uma recarga noturna domiciliar como satisfazer totalmente a necessidade de um proprietário de elétrico durante o tempo que o veículo permanece estacionado em um escritório ou shopping center. A Tupinambá apresentou no último ano um crescimento superior a 300% no número de estações de recarga, com aproximadamente 400 unidades. No Brasil, nos aproximamos de 200 mil estações de recarga listadas no App Tupinambá.

Portal do Trânsito – E quanto aos carregadores portáteis, eles vieram para ficar ou não terão espaço neste setor?

Davi Bertoncello – Muitos veículos são comercializados com carregadores portáteis, porém sua potência geralmente é baixa e insuficiente para uma considerável parcela dos usuários. Existem modelos de maior potência, no entanto, sua configuração e a qualidade da instalação elétrica do local de uso sempre imporão desafios relacionados à segurança. Por não permitirem protocolos de gestão remota, o processo de carga também não poderá ser acompanhado remotamente. Enxergamos estes carregadores como de uso temporário ou emergencial.

Portal do Trânsito – Por fim, quais tendências podemos esperar no que tange ao carregamento de carros eletrificados?

Davi Bertoncello – Nos próximos anos observaremos a continuidade da expansão de pontos de recarga rápida entre importantes players, como a Shell Recharge e Raízen. Entendemos que haverá uma maior oferta e valores mais competitivos nos equipamentos de recarga, novamente contribuindo para uma infraestrutura cada vez mais presente e robusta. Também notamos que a recarga de conveniência e destino será tão comum e desejada quanto a oferta de WiFi ou café da manhã no segmento da hotelaria. Com soluções como as oferecidas pela Tupinambá, a oferta de recarga será mais uma fonte de receita para muitos estabelecimentos e condomínios.  

Outro ponto importante a destacar é que enxergamos a migração da mobilidade para eletricidade como algo inexorável. A motivação não partirá apenas da urgência pela descarbonização das frotas, mas virá principalmente da experiência em se ter um veículo elétrico. Veículos agradáveis para se dirigir e que dispensam constantes substituições de itens de desgaste.

Carros que dispensam todo o tempo antigamente necessário para manutenção e abastecimento. Para muitos de nossos clientes, a recarga já ocorre durante a noite, com investimento feito pelo usuário: de fato são apenas alguns segundos para conectar o cabo de recarga. Ainda assim, enxergamos como necessária a ampliação dos pontos de recarga, especialmente os de recarga rápida e recarga em destinos, como o setor hoteleiro e comercial.

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