Sabe aquela ideia de botar o pé na estrada, meio sem destino e com a companhia certa? A maioria só imagina isso, mas Daphine Augustini (29) e Marcelo Simões (28) decidiram não perder tempo só pensando. O casal de artistas curitibanos mandou personalizar uma kombi, cobrindo o veículo com desenhos e pinturas que têm tudo a ver com essa viagem. “Sacica”, como foi apelidado o automóvel, também foi equipada para servir de moradia. E assim, com o estritamente necessário, os três (Daphine, Marcelo e Sacica) percorreram cinco países.
Viagem de kombi
Daphine é jornalista, mas decidiu viver exclusivamente do artesanato. Marcelo já era malabarista profissional quando se uniram, oito anos atrás. Juntos, amadureceram a ideia de viver viajando. O Trabalho de Conclusão de Curso de Daphine foi um livro-reportagem feito a partir de viagem de fusca ao cinco menores municípios do estado. A aventura foi o embrião para a empreitada maior.
Ao longo dos últimos seis anos, eles percorreram 24 unidades federativas do Brasil (faltaram apenas Rio Grande do Sul, Roraima e Amapá), passando, em sua viagem de kombi, por lugares exuberantes como as areias do Jalapão e as florestas da Amazônia. Também estiveram na Colômbia, no Peru, no Equador e na Bolívia.
Foram cerca de 80 mil quilômetros rodados, em tarefa que exigiu planejamento. “Foi preciso muita pesquisa, porque são diferentes estações climáticas e estradas. Tem estradas que, em determinadas épocas do ano, ficam inundadas”, explica Daphine.
Disparidades
A viagem de kombi também serviu para conhecer as desigualdades sociais existentes no Brasil, que é, paradoxalmente, “muito rico em termos de cultura e gastronomia, e com um povo acolhedor, alegre e autêntico”, diz. “Estar em cada um desses lugares é uma aula prática de economia, história, geografia e psicologia”.
Alerta de perrengue
Cheia de altos e baixos, a viagem foi narrada com fotos e postagens no Facebook do casal, que não deixou de expor os “alertas de perrengue”. De forma bem humorada, eles registraram problemas mecânicos e humanos enfrentados durante o desafio ao qual propuseram enfrentar.
- No Peru, no alto das montanhas, bastou o sol se pôr para que o casal passasse um frio gélido histórico, enquanto sofriam os efeitos das altas altitudes.
- Na Colômbia, o casal sofreu duas tentativas de furto, acabou o gás, e Daphine cortou um dedo preparando uma refeição.
- No Jalapão, o casal acabou atolando por 10 vezes a kombi nas dunas, e o tanque acabou ficando sem gasolina.
Ao trabalho
Para que a proeza de viver viajando desse certo, Daphine e Marcelo viveram do artesanato e da arte nos semáforos. Marcelo mostrou o que sabia fazer com os malabares. Daphine deixou o salário de jornalista para trás e passou a produzir, ao lado de Marcelo, pulseiras, brincos, e outros itens que vendiam nos lugares por onde passavam. Em contato com outros artistas de rua, trocavam materiais e experiências e, com isso, aprenderam diversas técnicas novas e ampliaram seu estoque com cristais e moedas, itens aromáticos e objetos raros.
Sacica à venda
Só que agora, o casal decidiu vender a kombi-home. O plano agora é ir para a Europa, estudar inglês por lá e fazer economias para poder iniciar mais uma sequência de viagens, agora em outro continente. Para isso, a Sacica será vendida.
“Bom, nós já viajamos muito com ele e agora pretendemos mudar de continente e continuar nossa vida nômade mais longe”, revela Daphine no post em Instagram, onde anuncia a decisão de passar o veículo adiante. “Precisamos conectar esse veículo maravilhoso a outras pessoas que queiram viver um sonho igual nós vivemos com ela”, diz.
A kombi foi comprada em um leilão de veículos da Prefeitura de São José dos Pinhais, e adaptada com estrutura para se tornar uma moradia-móvel. O teto, por exemplo, é retrátil para oferecer mais espaço interno. Um casal de grafiteiros, Gardpam, de Colombo, decorou a lataria. Para os interessados, o veículo está em Curitiba, onde pode ser conferido de perto.